quarta-feira, 5 de outubro de 2011



Por vezes desejava que os meus olhos fossem como máquinas fotográficas, para poder registar e partilhar com os outros aquilo que vejo e me deslumbra.
Mas tenho a impressão que muitas das vezes o deslumbramento não resulta tanto da imagem real,
mas com o que ela despoleta no meu cérebro.
Dou por mim a emocionar-me com um simples campo de flores, pela maneira como os raios de sol atravessam as nuvens, com o voo rasante de uma ave sobre um espelho de água. Algumas vezes tenho a câmara fotográfica comigo e registo o momento, quando chego a casa e revejo a foto já não é igual, o sentimento permaneceu apenas naquele instante.
Talvez um dia, inventem algum aparelhometro que permita para além de captar a imagem, registar a emoção e espanto pela beleza das coisas simples da vida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

RILKE

Tira-me a luz dos olhos - continuarei a ver-te
Tapa-me os ouvidos - continuarei a ouvir-te
E, mesmo sem pés, posso caminhar para ti
E, mesmo sem boca, posso chamar por ti.

Arranca-me os braços e tocar-te-ei
Com o meu coração como com uma mão...
Despedaça-me o coração - e o meu cérebro baterá
E, mesmo que faças do meu cérebro uma fogueira,
Continuarei a trazer-te no meu sangue.


Rainer Maria Rilke